Naquele tempo, a celebração da Páscoa acontecia anualmente no Templo em Jerusalém. Era uma das três festas anuais que exigiam o comparecimento de todos os homens, sendo as outras duas: a festa de Pentecostes e a festa dos Tabernáculos. A festa da Páscoa comemorava a saída dos judeus da escravidão no Egito (cf. Êxodo 12,1-13) e começava aproximadamente no décimo quarto dia de abril em nosso calendário, durando sete dias ao todo. A Páscoa propriamente era celebrada no dia inicial, seguindo-se depois a festa dos Pães Ázimos.
Muitos judeus com suas famílias viajavam de várias partes do mundo inteiro para Jerusalém durante essas festas. Assim, durante a Páscoa, o Templo ficava sempre abarrotado com milhares de visitantes, além dos seus habitantes.
Todo israelita – de vinte anos para mais – tinha que pagar anualmente, na tesouraria sagrada do Templo, meio siclo como um oferecimento ao Senhor (cf. Êxodo 30,13-15), e isso com a tradicional e antiga moeda hebraica desse valor exato. O povo também era obrigado a oferecer animais como sacrifício pelos pecados. Contudo, muitos não podiam trazer consigo seus animais porque vinham de longe, ou porque não dispunham de animais nas perfeitas condições exigidas.
Havia, portanto, grande procura de moedas de meio siclo assim como de animais próprios para os sacrifícios e holocaustos na festa da Páscoa. Para facilitar o comércio, os líderes religiosos permitiam que cambistas de moedas e comerciantes montassem suas bancas e barracas na corte dos gentios no Templo, pagando um aluguel. Era lucrativo para os negociantes e rendoso para os sacerdotes, à custa dos que vinham oferecer sacrifício. O Templo de Deus estava sendo usado de forma inadequada, e a perseguição do ganho material e o uso de práticas gananciosas predominavam. A Casa de Deus tinha se tornado uma espécie de bolsa de mercadorias ou feira livre.
O Senhor Jesus indignou-se com isso e, tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do Templo com seus animais, espalhou o dinheiro dos cambistas e virou-lhes as mesas, dizendo aos que vendiam as pombas “tirai daqui estas coisas: não façais da casa do meu Pai casa de negócio”, pois estavam fazendo um escárnio da casa de Deus. Ao término do Seu ministério, aproximadamente três anos mais tarde (cf. Mateus 21,12-17; Marcos 11,12-19; Lucas 19,45-48), Ele repetiu esta “limpeza”, pois o motivo de lucro daquela gente era mais forte que o desejo de conservar a santidade do Templo.
Deus sempre preveniu Seu povo contra o uso do culto a Ele para o seu próprio enriquecimento. O que o Senhor fez naquelas ocasiões não foi cruel ou injusto, mas era apenas a manifestação da sua santidade e justiça, o que fez com que seus discípulos se lembrassem do versículo no Salmo 69,9: “o zelo da tua casa me devorou”. Este salmo é citado 17 vezes no Novo Testamento e é um dos seis salmos mais citados no Novo Testamento.
Jesus tinha amplos motivos para dizer que os comerciantes gananciosos haviam transformado o Templo de Deus num “covil de salteadores”. Para poder pagar o imposto do Templo, os judeus e os prosélitos procedentes de outros países tinham de trocar seu dinheiro estrangeiro por moeda aceitável. Os cambistas operavam negócios lucrativos, cobrando uma taxa para cada moeda cambiada. Cristo os chama de salteadores, sugerindo que as taxas deles eram tão excessivas que, na realidade, extorquiam dinheiro dos pobres.
Alguns não podiam levar os próprios animais para ser sacrificados. Todos que os levavam tinham de submetê-los a um exame feito por um inspetor no Templo por uma taxa. Muitos que não queriam arriscar-se a ter um animal rejeitado depois de trazê-lo de longe, compravam um leviticamente “aprovado” dos negociantes corruptos no Templo. Muitos dos camponeses pobres eram bem enganados ali.
Há evidência de que o ex-sumo sacerdote Anás e sua família tinham capital investido nos comerciantes do Templo. Escritos rabínicos falam de “bazares dos filhos de Anás [no templo]”. O lucro que recebiam dos cambistas e da venda de animais na área do Templo era uma das suas principais fontes de renda. A ação de Jesus, de expulsar os comerciantes, não só tinha por alvo o prestígio dos sacerdotes mas também “o bolso” deles.
Não será que esta cena ainda se repete em nossos dias nas festas dos padroeiros em nossas Paróquias e Capelas?
Espírito purificador, tira do meu coração toda sorte de maldade e egoísmo, que o tornam indigno de ser morada de Deus.
Padre Bantu Mendonça
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