Apesar das diferentes versões míticas, a fundação de Caicó emerge com referências e protagonistas comuns: o vaqueiro, o touro, um poço e Sant’Ana. O imaginário local teceu-os em um belo roteiro elaborado coletivamente.
Uma das interpretações dá conta de que no sertão seridoense possivelmente existiu a tribo dos Caiacós que, mesmo derrotada nas Guerras dos Bárbaros, julgava-se invencível pelo amparo de Tupã, espírito encarnado em um touro bravio, que habitava um mofumbal que se espalhava sobre o local onde hoje é a cidade. Um vaqueiro que se embrenhara no mofumbal depara-se com o bravio touro tapuia. Vendo-se em perigo, o vaqueiro recorreu a Sant’Ana prometendo-lhe erigir uma capela se ela o salvasse do animal possesso.
Atendido o pedido, o vaqueiro iniciou a construção do templo. Era um ano de grande seca, e a única forma de abastecimento de água era um poço às margens do Rio Seridó. Diante da escassez de água, o vaqueiro fez nova promessa a Sant ‘Ana para que o poço não secasse. Daí em diante, o local passou a ser conhecido como Poço de Sant’Ana.
Outros mitos narram a existência de mais seres fantásticos. Em um deles uma bela sereia que habita o fundo do Poço sairia ao pôr-do-sol para pentear sua longa cabeleira nos lajeiros que emolduram a porção d’água.
Um mito mais dramático complementa o combate entre Tupã e o vaqueiro, contando que o espírito do deus índio, ao ser expulso do touro, teria tomado a forma de uma serpente gigante que se abriga nas águas do poço, ameaçando destruir a cidade se algum dia o poço secasse, ou se o rio transbordasse e as suas águas atingissem o altar-mor da igreja matriz.
Eivado pelo imaginário mestiço da região, o Poço de Santa’Ana foi por muitos anos a principal fonte de abastecimento de água para a cidade, fosse para fins domésticos ou de construção.
O lugar decantou também a enérgica resistência popular quando em Caicó um grupo de pessoas, na revolta ”Quebra-Quilos”, em 1873, contra a adoção do sistema métrico-decimal no Império, atirou ao poço quilos de pesos metálicos.
Atualmente o Poço de Sant’Ana encontra-se poluído e quase assoreado, reclamando uma ação que salve sua fauna e flora reais e fantásticas.
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