
Segundo a narração de Marcos (1,16-29) e de Mateus (4,18-22), o cenário da vocação dos primeiros apóstolos é o mar da Galileia. Jesus acabara de iniciar a pregação do Reino de Deus, quando o Seu olhar pousou sobre dois pares de irmãos: Simão e André, Tiago e João. São pescadores, empenhados no seu trabalho cotidiano. Lançam as redes, consertam-nas. Mas outra pesca os aguarda. Jesus chama-os com decisão e eles seguem-No imediatamente: agora serão “pescadores de homens” (cf. Mc 1,17; Mt 4,19).
Lucas, ainda que siga a mesma tradição, faz uma narração mais elaborada sobre isso (5,1-11). Ele mostra o caminho de fé dos primeiros discípulos, esclarecendo que o convite para o seguimento lhes chega depois de terem ouvido a primeira pregação de Jesus e experimentam os primeiros sinais prodigiosos por Ele realizados. Em particular, a pesca milagrosa constitui o contexto imediato e oferece o símbolo da missão de pescadores de homens, que lhes foi confiada. O destino destes “chamados”, de agora em diante, estará intimamente ligado ao de Jesus. O apóstolo é um enviado mas, ainda antes, um “perito” em Jesus.
Precisamente este é o aspecto realçado pelo evangelista João desde o primeiro encontro de Jesus com os futuros apóstolos. Aqui o cenário é diferente. A presença dos futuros discípulos, provenientes também eles, como Jesus, da Galileia, para viver a experiência do batismo administrado por João, esclarece o seu mundo espiritual. Eram homens na expectativa do Reino de Deus, desejosos de conhecer o Messias, cuja vinda estava anunciada como iminente.
Para eles, é suficiente a orientação de João Batista que indica em Jesus o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1,36), para que surja neles o desejo de um encontro pessoal com o Mestre. As frases do diálogo de Jesus com os primeiros dois futuros apóstolos são muito expressivas. À pergunta: “Que procurais?”, eles respondem com outra pergunta: “Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?”. A resposta de Jesus é um convite: “Vinde e vede” (cf. Jo 1,38-39).
Vinde para poder ver. A aventura dos apóstolos começa assim, como um encontro de pessoas que se abrem reciprocamente. Começa para os discípulos um conhecimento direto do Mestre. Veem onde Ele mora e começam a conhecê-Lo. De fato, eles não deverão ser anunciadores de uma ideia, mas testemunhas de uma Pessoa. Antes de serem enviados a evangelizar, deverão “estar” com Jesus (cf. Mc 3,14), estabelecendo com Ele um relacionamento pessoal. Sobre esta base, a evangelização não será mais do que um anúncio daquilo que foi experimentado e um convite a entrar no mistério da comunhão com Cristo (cf. 1 Jo 13).

Uma certa crítica moderna de inspiração racionalista vê nessas expressões a falta de uma consciência universalista do Nazareno. Na realidade, elas devem ser compreendidas à luz da Sua relação especial com Israel, comunidade da aliança, em continuidade com a história da salvação. Segundo a expectativa messiânica as promessas divinas, imediatamente dirigidas a Israel, ter-se-iam concretizado quando o próprio Deus, por intermédio do Seu Eleito, reunisse o Seu povo, como faz um pastor com o rebanho: “Eu virei em socorro das minhas ovelhas, para que elas não mais sejam saqueadas… Estabelecerei sobre elas um único pastor, que as apascentará, o meu servo Davi; será ele que as levará a pastar e lhes servirá de pastor. Eu, o Senhor, serei o seu Deus, e o meu servo Davi será um príncipe no meio delas” (Ez 34,22-24).
Jesus é o Pastor escatológico, que reúne as ovelhas perdidas da casa de Israel e vai à procura delas, porque as conhece e ama (cf. Lc 15,4-7 e Mt 18,12-14; cf. também a figura do Bom Pastor em Jo 10,11ss.). Por meio desta “reunião” o Reino de Deus é anunciado a todas as nações: “Manifestarei a minha glória entre as nações, e todas me verão executar a minha justiça e aplicar a minha mão sobre eles” (Ez 39,21). E Jesus segue precisamente este caminho profético. O primeiro passo é a “reunião” do povo de Israel, para que assim todas as nações, chamadas a reunirem-se na comunhão com o Senhor, possam ver e crer.
Assim os Doze, chamados a participar na mesma missão de Nosso Senhor Jesus Cristo0, cooperam com o Pastor dos últimos tempos, indo também eles, em primeiro lugar, até as ovelhas perdidas da casa de Israel, isto é, dirigindo-se ao povo da promessa, cuja reunião é o sinal de salvação para todos os povos, o início da universalização da Aliança. Longe de contradizer a abertura universalista da ação messiânica do Nazareno, a inicial limitação a Israel da Sua missão e da dos Doze torna-se assim o Seu sinal profético mais eficaz. Depois da Paixão e da Ressurreição de Cristo este sinal será esclarecido: o caráter universal da missão dos apóstolos tornar-se-á mais explícito. Cristo enviará os apóstolos “a todo o mundo” (Mc 16,15), a “todas as nações” (Mt 28,19; Lc 24,47), “até aos extremos confins da terra” (At 1,8).
E essa missão continua. Continua sempre o mandato do Senhor de reunir os povos na unidade do Seu amor. Esta é a nossa esperança e este é também o nosso mandato: contribuir para esta universalidade, para esta verdadeira unidade na riqueza das culturas, em comunhão com o nosso verdadeiro Senhor Jesus Cristo.
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