A parábola dos talentos, apesar das semelhanças, não deverá ser a mesma das minas – ainda que alguns pensem que sim – pois Jesus podia ter contado duas parábolas semelhantes, embora com o mesmo fim didático. Esta parábola ensina principalmente a necessidade de corresponder à graça duma maneira esforçada, exigente, constante, durante toda a vida. Temos de fazer render todos os dons da natureza e da graça, recebidos do Senhor. O importante não é o número dos talentos recebidos, mas sim a generosidade em fazê-los frutificar.
Não se trata propriamente de uma moeda mas de uma unidade monetária, cujo valor ignoramos ao certo por variável que era então, mas que ronda pelos 36 quilos de prata. O texto nos sugere refletirmos sobre três pontos funtamentais que são:
1º ponto: o segredo da felicidade. Todos suspiramos pela felicidade. Todos queremos ser felizes. Todavia, é preciso não termos ilusões. A felicidade não se recebe de “mão beijada”. Ela é conquistada com o esforço, o trabalho e o sacrifício. O segredo da felicidade está na fidelidade aos nossos deveres em relação a Deus e aos outros. Ser fiel no dever de cada dia. Fiel em pequenos gestos de caridade com o próximo. Fiel no compromisso de piedade, de amor para com Jesus na Eucaristia. Fiel na preocupação de tornar a vida agradável aos outros, sorrindo, servindo e ensinando. Não é indiferente ser ou não ser fiel: “ditoso o que teme o Senhor e segue o seu caminho”, diz o Salmista. Não há felicidade sem fidelidade.
2º ponto: os pecados de omissão. O Evangelho nos diz que o patrão daqueles criados, passado muito tempo, foi ajustar contas com eles. Enquanto que o primeiro e o segundo puseram a render os talentos recebidos, o terceiro, deixando-se levar pela preguiça, nada fez. Daí, ouvir a censura condenatória do seu patrão: servo mau e preguiçoso.
Aqui temos retratado o pecado de omissão. Aquele servo não perdeu o talento recebido. Teve até o cuidado de o esconder, mas assim o tornou improdutivo.
O servo preguiçoso é imagem viva do cristão que, quando é chamado a uma vida de piedade mas intensa, a comprometer-se na tarefa do apostolado, a aliviar o peso da pobreza e do sofrimento de quem o rodeia, se esquiva. E tranquiliza a sua consciência dizendo: “Eu não sou mau, não trato mal a ninguém, nem prejudico quem quer que seja”. Quem fala assim não repara que também existem omissões graves, coisas que se deviam ter feito ou dito, mas não se fizeram nem se disseram.
3º ponto: o verdadeiro descanso. O comportamento dos servos não foi igual. Para o primeiro e o segundo o resultado foi 100% positivo. Para o terceiro foi 100% negativo. Cada um recebeu seus talentos para os pôr a render sempre que possa fazer algo. Diante desta verdade, eu não posso “cruzar os braços”. Certamente que não resolvo tudo. Faço o que posso! Portanto, dê você também o seu 100% e descansará. Assim, você também tomará posse do que está reservado àqueles que em vida deram o seu 100%.
O Evangelho estabelece um laço constante entre os pecados de omissão e o inferno. Três textos se referem ao caso: a parábola dos talentos: “lançai-os às trevas lá de fora”. Na parábola do rico avarento (Lc 16,10): “Morreu e foi sepultado no abismo”. E em Mt 25,11: “Afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno”.
Eu, no meu lar, no lugar de trabalho, nas minhas relações sociais, na minha paróquia, faço frutificar os talentos de inteligência, saúde, simpatia, de possibilidades econômicas? Ou enterro tudo isso no “despejo” da preguiça? Procuro trabalhar na defesa dos valores da vida, verdade, honra, pudor e dos outros que precisam da minha ajuda? Mãos à obra! Você tem tudo para ser feliz e repousar na alegria do seu Senhor. Basta que ponha a render os seus talentos.
Padre Bantu Mendonça
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