João Batista é um crente em Deus, que vive para Ele, sempre aberto, disponível às Suas iniciativas. Por isso, sabe reconhecê-Lo no misterioso Homem da Galileia que vem se fazer batizar por ele, no Jordão: Jesus de Nazaré.
Contudo, na escuridão da prisão de Herodes, João Batista é invadido pelo medo, pela tristeza, pela dúvida: “Ter-me-ei enganado ao ver em Jesus o Cordeiro de Deus?” Mas a sua fé é grande. Em vez de pô-la em discussão, manda embaixadores a Jesus, pedindo luz para compreender a situação. Torna-se, pois, ainda mais pobre, fazendo-se a simples interrogação: “És Tu o que está para vir, ou devemos esperar outro?”
Jesus responde aos embaixadores apontando as obras que anda a fazer. Não apenas os milagres que dão testemunho d’Ele, mas o que eles significam. São sinais de que começou uma nova humanidade, que sabe acolher a Palavra de Deus, ver as maravilhas que Ele faz e caminhar pelos Seus caminhos: “a Boa Nova é anunciada aos pobres”.
O estilo paradoxal da ação de Deus – em Jesus – não escandalizará um pobre prisioneiro, como é João. Pelo contrário, torná-lo-á muito “feliz”. Embora tenha anunciado a vinda de Jesus, o próprio João Batista teve dificuldade de reconhecê-Lo. Com a chegada do Messias, o mundo não se acabou, como proclamava João. Ele não se apresentou como um juiz severo, como fora anunciado; antes se caracterizou por Sua mansidão e humildade de coração.
Sua pregação não visava incutir medo e levar à conversão a qualquer custo, mas tentava avivar a chama do amor no coração dos pobres e sofredores. Além do mais, João estava no cárcere, e Jesus não o havia libertado, como se esperava do Messias, libertador dos prisioneiros. Eis porque sentiu a necessidade de mandar seus discípulos para interrogarem a Jesus sobre Sua identidade.
A resposta de Cristo colocou João e Seus discípulos diante de um exercício de discernimento. Eles foram confrontados com os gestos prodigiosos de Jesus e tinham o testemunho da cura de cegos, coxos, leprosos, surdos e de mortos que haviam sido ressuscitado. Enfim, os pobres estavam sendo evangelizados. Interpretando estas ações de Jesus, a partir de textos dos antigos profetas, não era possível pôr em dúvida a condição d’Ele de Messias. Todo o agir do Senhor inspirava-se nas profecias messiânicas e Seus gestos comprovavam Sua identidade. Diante dos milagres de Jesus Nazareno, era necessário, porém, ter a coragem de reconhecer sua condição de Filho de Deus.
“Destilai, ó céus, lá das alturas o orvalho, e que as nuvens façam chover a justiça”. Isaías oferece-nos, hoje, uma aclamação que traduz perfeitamente o estado de alma de quem vive o Advento. Por isso é que a Igreja a repete tantas vezes na sua oração durante esse tempo litúrgico. O profeta manifesta o desejo de uma intervenção divina, porque está convencido de que a justiça e a salvação só podem vir de Deus. Ao contrário de tantos outros textos, nos quais a intervenção de Deus é comparada a uma tremenda batalha contra os maus, aqui é comparada a um calmo e benéfico orvalho, ao mistério de uma chuva fecunda.
São imagens adequadas ao mistério da Encarnação, que não se realizou de modo estridente, mas com infinita discrição, na “sombra” do Espírito Santo. À intervenção divina deve corresponder a nossa discreta disponibilidade: “Abra-se a terra!” E a terra abriu-se, quando a Virgem de Nazaré deu o seu “sim”: “Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
O Evangelho de hoje apresenta-nos João rendido a Cristo, dando testemunho d’Ele com a sua vida. João é também “terra aberta” ao Verbo de Deus feito Homem, um verdadeiro disponível, um verdadeiro “pobre de Deus”, a quem Jesus proclama bem-aventurado. O Batista é a imagem do crente que caminha na paciência e que está sempre disponível a reformular as suas expectativas diante do imprevisível estilo da vinda de Deus. Assim, vai aprofundando sua esperança até o supremo testemunho do sangue.
João Batista ensina-nos que, mesmo a fé mais forte e sincera, pode coexistir com a dúvida e que a maneira de vencer essa dúvida é a oração. Renunciando a pôr em causa a promessa de Deus e revendo os nossos modos limitados de ver a promessa divina e de esperar a sua realização, encontramos a paz.
Padre Bantu Mendonça
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