4 de fevereiro de 2012

Não seja ‘burocrata do sagrado’, mas propagador da compaixão do Pai

Pegando a frase do Evangelho “a multidão estava como que ovelhas sem pastor”, Jesus atrai para si o título de Pastor. Este atributo recebe a sua justificação na observação do evangelista ao interpretar os sentimentos do coração do Senhor: vendo as multidões que O seguiam, Jesus se compadeceu delas, teve compaixão.
Mestre, desde o início da Sua missão, Jesus convida os discípulos – e a todos nós! – a manifestar aos homens o amor de Deus por eles.
Em poucas linhas, podemos ter o quadro da vida de Jesus Nazareno com os apóstolos e a multidão do povo: a intimidade do Senhor com o grupo dos Doze visando à formação destes, a atividade intensa da vida pública de Jesus e dos apóstolos, o entusiasmo do povo pelo Senhor, a Sua disponibilidade apesar da fadiga, por fim, os sentimentos profundos de Jesus diante desse povo errante e sedento de Deus. É assim que Deus olha para mim e para você, bem como para toda a sua família e os homens no mundo inteiro. Deus deseja e quer que todos O procuremos: “Havia ali tanta gente, chegando e saindo“.
Embora com o desejo e a vontade de atender a todos, Jesus, juntamente com os apóstolos, ressalta a necessidade de um descanso, após as tarefas apostólicas. Para dizer que também o missionário precisa de descanso. Um tempo de retiro, de recuperação das energias, de intimidade com Deus. Foi por isso que, quando os discípulos voltam empolgados com os resultados da missão, a primeira reação do Mestre é convidá-los para uma retirada, para que refaçam as forças.
Jesus tem critérios que não correspondem ao grande critério da sociedade nossa: o da eficácia. Para Ele, os apóstolos não eram “máquinas”, mas, em primeiro lugar, pessoas humanas que necessitavam ser tratadas como tais.
O trabalho – mesmo o trabalho missionário – não é absoluto. Jesus reconhece a necessidade de um equilíbrio entre todos os aspectos da vivência humana. Aqui há uma lição para muitos cristãos engajados hoje: embora devamos nos dedicar ao máximo no apostolado, não devemos descuidar da nossa vida particular, da nossa saúde, do cultivo de valores espirituais e do relacionamento afetivo com os outros. Caso contrário, estaremos esgotados em pouco tempo, meras “máquinas” ou “funcionários” do sagrado, que não mostram ao mundo o rosto compassivo do Pai, mas que por dentro são “ocos”!
O texto ressalta a compaixão de Jesus para com o povo com uma característica específica: era um povo muito sofrido, rejeitado e desprezado pelos chefes político-religiosos da época. Diante de tal cenário, muitas vezes, Cristo nem tinha tempo para comer. E quando Ele se retirava, o povo ia atrás d’Ele.
O que atraía tanta gente? Com certeza, não foi em primeiro lugar a doutrina, nem os milagres, mas o fato de irradiar compaixão, de demonstrar duma maneira concreta o amor compassivo de Deus. Jesus não teve “pena” do povo, não teve “dó” dos sofridos. Teve “compaixão” das pessoas, literalmente, sofria junto com elas, e tinha uma empatia com os sofredores, a qual se transformava numa solidariedade afetiva e efetiva.
Este traço da personalidade de Jesus desafia a Igreja e os seus ministros hoje, para que não sejam “burocratas do sagrado”, mas irradiadores da compaixão do Pai.

Infelizmente, muitas vezes, as nossas igrejas mais parecem repartições públicas do que lugares do encontro com a comunidade que acredita no amor misericordioso de Deus e na compaixão de Jesus! A frieza humana frequentemente marca as nossas atitudes, pregações e cuidado pastoral. Num mundo que exclui, que marginaliza e que só valoriza quem consome e produz, o texto de hoje nos desafia a nos assemelharmos cada vez mais a Cristo, irradiando compaixão diante das multidões que hoje – mais do que nunca! – estão como que ovelhas sem pastor.

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